6ª e 7ª Semanas Instax | Uma Vida Dentro da Outra



Sinto como se vivesse uma vida dentro de outra, como aquelas molduras com fotos sobre a foto com a mesma moldura.
Um sonho dentro de outro, uma vida dentro da outra. Que não é inventada, de todo, mas não é aquela que eu realmente queria viver.

Inevitavelmente este post me levará a um assunto chato, que é o fato de viver em um país estrangeiro. E não importa quantas vidas eu venha a ter, não importa ter um cartão do cidadão e cumprir os deveres para ter direitos, não importa adquirir sotaque, não importa a escrita ou todos os detalhes que eu venha a adaptar ao meu jeito de ser, serei sempre aos olhos dos outros a brasileira e aos meus olhos, um peixe fora d'água, a viver com máscara de oxigênio.

Eu não preciso ser lembrada a cada momento que surge o assunto do acordo ortográfico de que a "culpa" é minha, sim porque sou brasileira e é culpa é dos brasileiros que tudo tenha mudado em Portugal, por causa de um acordo (de interesses) estúpido como tudo. Eu não preciso ser constrangida em meio a todos com perguntas das mais absurdas sobre vocabulário utilizado lá e aqui. 

É difícil para mim viver aqui, acreditem! Porque nós não escolhemos onde nascemos, nem advinhamos que a nossa vida aos 25 anos vai recomeçar quase do zero num país estranho, onde acreditamos piamente que seremos bem recebidos e basta sermos simpáticas que tudo se arranja.

Qualquer semelhança é mera coincidência realmente, pois culturalmente não existe qualquer similaridade entre portugueses e brasileiros. Não consigo explicar que para mim é normal comer arroz, feijão, macarrão, purê, carne e banana na hora do almoço. Não consigo explicar que tenho altos e baixos, por passar dias sem ter uma conversa normal com alguém, porque trabalho com meu marido e é provável que não tenhamos assunto ao fim do dia ou que tudo venha a cair na mesmice dos assuntos de trabalho.

Eu vivo uma vida boa, não me falta materialmente nada, nem faltava quando eu vivia "dentro do aquário", nunca passei fome, nunca deixei de ter um objeto ou uma roupa por viver lá. Estudei em escolas particulares e me formei, fiz tudo o que uma pessoa aqui também faz. Apenas, escolhi por amor, viver fora do aquário, com máscara de ar e não é fácil, dói, falta-nos o ar, principalmente quando aqueles que mais amamos não estão bem, precisam de nós e nós não podemos naquele momento regressar.

Por vezes, nem eu sei como vivo, sobrevivo do amor que sinto e que recebo, nada mais me prende aqui. Não tenho qualquer outro motivo para ficar e só tenho muitos motivos para voltar, a minha natureza não me permite amar mais este país do que o meu, por mais vidas que eu tenha, por mais lugares que eu conheça, por mais amor que receba aqui, sempre terei o umbigo enterrado naquele lugar e é para lá que eu quando tiver asas voarei para os meus encontrar.


3 comentários:

Cisca disse...

Tão bonito. Percebo bem minha querida. Um beijinho grande!

Unknown disse...

Amei o texto é lindo mas eu sei o que é isso eu vivi na Suiça e sentia-me miserável e quando voltei para o meu país fiquei com outra essencia que a vida me trazia.
Beijinhos

uglyfashionexperience.blogspot.pt

Unknown disse...

Compreendo-te sem nunca ter passado por essa experiência... não percebo o porquê das pessoas não se respeitarem umas às outras enquanto culturas diferentes :(
Era tudo tão mais fácil se as pessoas se vissem como iguais!
Um dia voltarás para o teu aquário, para perto dos que amas!
Beijinho enorme e muitos abracinhos, Adoro-te!!!

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